terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fantasmas da Torre de Londres


Um dos locais mais turísticos de Londres, a capital inglesa,é a Torre de Londres, construção iniciada junto ao rio Tamisa em 1078 por ordem de Guilherme o Conquistador e finalizada cerca de duzentos anos mais tarde, entre 1275 e 1285. Visita imprescindível para quem não se importar de aguardar horas nas filas intermináveis de turistas que aguardam a visita não só às diferentes secções da Torre, como ainda às Jóias da Coroa Inglesa, guardadas desde 1303 no edifício e actualmente visitáveis na Jewel House, uma câmara subterrânea.
The Tower, como também é mais simplesmente conhecida, serviu várias funções ao longo dos tempos: residência real, sede da Casa da Moeda, zoo de animais do reino e prisão, motivo pelo qual é mais famosa ou famigerada. Foi, efectivamente, usada para albergar gente de estatuto social elevado e dissidentes religiosos, os quais entravam no local através da discreta Traitors Gate, situada ao nível da água.
O primeiro prisioneiro da Torre terá sido Ranulf Flambard, bispo de Durham, que em 1100 foi acusado de corrupção, mas que logrou escapar com o auxílio de uma simples corda. Entre outros, a torre albergou gente como John Balliard, rei da Escócia, David II da Escócia, João II de França, Carlos I de Valois, duque de Orleães, o qual terá composto cerca de 500 poemas durante o seu encarceramento, Henrique VI de Inglaterra, assassinado a 21 de Maio de 1471 e a sua esposa, Margarida de Anjou, Sir William de la Pole, aprisionado de 1502 a 1539, que assim se tornou o recordista de permanência no local, Elizabeth I de Inglaterra, apenas por dois meses, devido a um alegado envolvimento com Thomas Wyatt (filho), Sir Walter Raleigh, que durante os 13 anos que lá passou redigiu The History of The World, o conhecido conspirador Guy Fawkes, depois enforcado e esquartejado no Pátio Velho do Palácio de Westminster, Sir Francis Bacon, acusado de corrupção, e ainda o líder nazi Rudolf Hess, em Maio de 1941, por um período de quatro dias. Os últimos prisioneiros da Torre foram os irmãos Kray, em 1952, por deserção do exército.
Mas muita gente de renome conheceu a morte por execução na própria torre, nomeadamente na secção que dá pelo nome de Bloody Tower, incluindo William Hastings, Thomas More, Ana Bolena, Margaret Pole, Catherine Howard, Joana Bolena, Joana Grey e Robert Devereux, além de dois príncipes herdeiros, mandados prender e executar pelo que viria a ser o tristemente famoso Ricardo III, descrito de modo consideravelmente negativo na peça homónima de William Shakespeare.
É por isso que os mais ousados se poderão aventurar à descoberta dos inúmeros fantasmas que se afirma habitarem a torre, começando por Ana Bolena, provavelmente o mais famoso de todos, que se diz passear com a cabeça decapitada debaixo do braço em torno da Torre ou ainda comandando uma procissão de espíritos de lordes e ladies.
Se Thomas Becket terá sido o primeiro fantasma a dar sinal de si durante a história da Torre, os relatos abundam, cada um mais tenebroso que o anterior... Sir Walter Raleigh é visto com um aspecto precisamente similar ao que se pode visualizar no retrato que dele guarda a Bloody Tower. A condessa de Salisbury, executada aos 70 anos de idade  em consequência de motivações políticas e por ordem de Henrique VIII, ter-se-á recusado a pousar a cabeça no cepo como uma vulgar criminosa e fugido, perseguida pelo carrasco que a terá finalmente conseguido decapitar em parcelas e de forma, imagina-se, muito atabalhoada. Parece que a cena se repete mais do que ocasionalmente no local... Mas recordemos o facto de o edifício ter, em tempos, albergado um zoo e não nos fiquemos por aparições antropomórficas: em Janeiro de 1815, rezam as crónicas, um guarda que se deparou com um enorme urso ectoplásmico foi encontrado inconsciente, tendo vindo a morrer dois meses mais tarde - de susto! De resto, são incontáveis os relatos de gente que se depara com procissões funerárias ou ainda com uma lady de rosto coberto por um véu, sob o qual, em lugar de um rosto, nada mais há do que um assustador vazio negro.
Para concluir, os corvos são tradicionalmente considerados um prenúncio de morte. Pois a Torre de Londres possui a sua própria colónia de corvos, protegidos por um Decreto Real. Afirma-se que, quando estas aves abandonarem a Torre, o império cairá definitivamente. Um conselho, pois: da próxima vez que forem a Londres, visitem a Torre. É que nunca se sabe quando se poderá abater uma nova epidemia de gripe das aves e então...

Imagem de: http://tower-of-london-and-crown-jewels.visit-london-england.com/.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Citações: John Lennon, 1966


Durante a nossa última digressão as pessoas insistiam em trazer crianças cegas, com deficiências e com deformidades para o nosso camarim, e a mãe de um desses rapazes acabava por dizer "Vá lá, dê-lhe um beijo, talvez lhe traga a visão de volta". Nós não somos cruéis. Já vimos tragédia que chegasse em Merseyside, mas quando uma mãe pede chorosa "Basta tocar-lhe e pode ser que ele volte a andar", queremos fugir, chorar, esvaziar os bolsos. Manter-nos-emos normais nem que tenhamos de morrer a tentá-lo!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Muro da Vergonha em Berlim

Soldados da RDA construindo o Muro de Berlim


No final da Segunda Guerra Mundial, Berlim, a capital do Terceiro Reich, foi administrativamente dividida em quatro sectores, de modo a satisfazer as diferentes potências ocupantes: um sector pertencente aos Estados Unidos, um ao Reino Unido, um a França e um quarto à União Soviética. Em princípio, as potências deveriam unir esforços para a reconstrução da cidade e a implantação de uma nova Alemanha de contornos democráticos. Rapidamente, no entanto, surgiram desacordos, nomeadamente com a recusa da URSS em participar nos planos de reconstrução e ainda de fornecer dados contabilísticos relativos a fábricas, materiais e infraestruturas que já se encontravam nas suas mãos. Simultaneamente, a URSS dedicava-se à criação de uma barreira protectora de países "satélites" que incluiam a Polónia, a Hungria e a Checoslováquia, entre muitos outros. Em 1948, inclusive, possivelmente já com o fito da criação da República Democrática Alemã (RDA), um estado ligado ao poderio soviético, Moscovo impôs um bloqueio a Berlim Ocidental, o que obrigou um grupo de vários países a sobrevoar Berlim para fornecer alimentos à população.
A 7 de Outubro de 1949 nascia, enfim, a RDA e a Alemanha era oficialmente dividida em duas. Através de um acordo secreto, o governo local possuía autoridade administrativa, mas não autonomia, o que permitiu à URSS infiltrar-se em todos os sectores estratégicos do país. Entretanto, começava a verificar-se o crescimento económico da República Federal Alemã (RFA), Alemanha capitalista a Ocidente, face à degradação na vida dos cidadãos do lado socialista. Por isso, muitos quiseram mudar de lado: 187 mil em 1950, 165 mil em 1951, 182 mil em 1952, 331 mil em 1953, provavelmente em resultado do endurecimento do regime sob a égide do líder soviético Staline. Em 1961, 3,5 milhões de alemães de Leste cruzaram a fronteira, o que equivalia não só a cerca de 20% da população, como ainda a população culta e efectivamente preparada. As autoridades não podiam deixar de se sentir preocupadas.
Apesar dos rumores do encerramento total de fronteiras e do secretário-geral do Partido Comunista da RDA ter declarado, numa conferência de imprensa internacional realizada a 15 de Junho de 1961, que "ninguém pretendia construir um muro", o líder soviético Nikita Kruschev decidiu de outro modo e mandou que se procedesse ao encerramento total da fronteira a 13 de Agosto de 1961. Imune ao facto de tantas famílias, como o próprio país, se verem assim divididas, o governo da RDA declarou tratar-se de "uma protecção anti-fascista contra as agressões do Ocidente".
O Muro de Berlim corria ao longo de mais de 140 km e conheceu quatro versões: arame farpado em 1961, arame farpado reforçado entre 1962 e 1965, cimento entre 1965 e 1975 e cimento reforçado entre 1975 e 1989, aquando da sua demolição, ainda que com parcelas mais frágeis, propositadamente construídas para a eventualidade de tanques e exércitos de Leste terem que cruzar a fronteira em caso de guerra. Em 1962, foi acompanhado por um "gémeo" a cerca de 100 metros do primeiro.
Enquanto existiu e apesar das ordens recebidas pelos soldados da RDA de atirarem para matar (algo negado e mais tarde confirmado), inclusive sobre mulheres e crianças, cerca de cinco mil alemães do Leste lograram ultrapassar o Muro com sucesso.
A 12 de Junho de 1987, o presidente norte-americano Ronald Reagan exortou, num discurso pronunciado junto às Portas de Brandeburgo, Gorbachev, entretanto ocupado a transformar a União Soviética a partir do interior, a "deitar abaixo o Muro". Líderes ocidentais como a conservadora britânica Margaret Thatcher e o socialista francês François Miterrand, opunham-se, receosos do poder de uma Alemanha reunificada.
A data geralmente aceite para a demolição do Muro de Berlim é 9 de Novembro de 1989. No entanto, a total destruição da barreira durou semanas, com a intensa participação dos berlinenses, então apelidados "pica-paus de muros". Actualmente, Berlim é de novo a capital da Alemanha reunificada e inúmeros pontos do "muro da vergonha" que assinalava a força da "cortina de ferro" podem ser visitados.

Berlinenses colaborando para deitar abaixo o Muro

Imagens de: www.historiadomundo.com.br e www.ionline.pt.