sexta-feira, 1 de junho de 2012

45 anos de Sergeant Pepper's


Independentemente da importância e influência de tantas bandas e músicos, foram os Beatles, nomeadamente a partir de Revolver (1966) que geraram uma volta de 180º nas tendências, isolando França e Itália nas suas próprias bolhas musicais, assim abrindo o caminho percorrido até à atualidade.
E como decorrem hoje precisamente quarenta e cinco anos sobre o lançamento do lendário álbum Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band, faz todo o sentido relembrá-lo. Após a conturbada tournée final de 1966 pelos Estados Unidos, em que os membros da banda se queixaram de não se conseguirem escutar no meio da histeria geral, ficou decidido que os tempos dos concertos ao vivo tinham ficado para trás.
Assim, a ideia subjacente ao novo álbum, intimamente ligado ao Verão de 1967, conhecido como o Verão do Amor, consistiu em criar uma obra em que as músicas se interligassem de modo a criarem elas mesmas um concerto, sem que os músicos tivessem que pisar o palco. Iniciado em dezembro de 1966 e gravado durante 129 dias consecutivos, Sergeant Pepper's multiplicou o número de pistas de gravação face ao que até então era habitual, criou e utilizou novas técnicas de produção e novos conceitos, variou as correntes musicais em jogo e fez uso de orquestras inteiras. Ponto máximo do psicadelismo, publicado a 1 de Junho de 1967, ganhou os Grammy Awards em 1968, foi número 1, em 1994, no All The Top 1000 Albums e fez parte da lista dos melhores álbuns de sempre da conceituada Rolling Stone em 2003 e 2012. Foi também o álbum mais vendido de todos os tempos, com vendas superiores a 32 milhões de cópias.
Tratando-se de um ponto de viragem cultural, assim como uma mudança radical para a própria banda, foi também a partir de Sergeant Pepper's que se difundiu a teoria de que Paul McCartney teria morrido num acidente de viação no final de 1966 e sido substituído por um sósia, teoria essa que se mantém viva até à atualidade dentro de certos círculos. O substituto - com voz idêntica, inclusive - teria sido Billy Shears (mencionado logo na primeira faixa do álbum) ou, como mais tarde se afirmou, um tal William Campbell, vencedor de um concurso de imitadores dos elementos da banda.

Paul is Dead

A teoria conspiratória, vulgarmente denominada Paul is Dead, inicia-se logo em Sergeant Pepper's e baseia-se em supostos indícios quer sonoros, quer imagéticos. Vejamos, de entre muitos outros...
No tema Sergeant Pepper's Lonely Heart's Club Band que dá o arranque inicial ao álbum, Billy Shears é apresentado como o líder da banda. O tema termina mesmo com um sonoro "Billy Shears" - mas quem interpreta o tema que se segue é Ringo e não Paul e, supostamente, não teria sido Ringo a desaparecer num acidente de automóvel. Na capa interior, Paul ostenta um patch onde se pode ler OPD, o que foi interpretado como Officially Pronounced Dead. No entanto, parece ter-se tratado de um patch da polícia canadiana e não OPD, mas sim OPP. Na contracapa, em vermelho sangue, Paul é o único a encontrar-se de costas, enquanto o dedo polegar de George Harrison parece apontar para o início da letra de She's Leaving Home: "Wednesday morning at five o'clock as the day begins", o que aparentou apontar para quarta-feira, 9 de novembro de 1966, pelas 5 da manhã, quando teria ocorrido o acidente fatal.
No álbum Magical Mystery Tour, onde se inclui o tema I am the Walrus, Paul surge vestido de morsa. Parece que a morsa é símbolo da morte na mitologia viking. E no mesmo álbum, precisamente em I am the Walrus, Lennon parece dizer "I buried Paul", embora mais tarde se tenha vindo a concluir que as palavras eram efetivamente "Cranberry sauce".
No subsequente White Album, diz-se que quando se toca Revolution 9 ao contrário, John Lennon afirma "Turn me on, dead man", o que seria uma referência oculta a Paul e ao mantra I'd love to turn you on de A Day in the Life (Sergeant Pepper's). Em Glass Onion, Lennon canta "And here's another clue for you all/The Walrus was Paul". E, no final de I'm so Tired, logo antes do início de Blackbird, convenientemente interpretado por Paul, John  diz algo de impercetível que, escutado ao contrário, pode soar a algo como "Paul is a dead man. Miss him. Miss him. Miss him". 
Outras "provas" do conluio chegam até Let it Be (o penúltimo álbum da banda, ainda que o último a sair a público) e a Abbey Road. Parece que na capa do primeiro, constituído por quatro fotografias dos elementos da banda, apenas o rosto de Paul surge obscurecido por um microfone, ao passo que os restantes surgem iluminados. Quanto a Abbey Road, a capa foi comparada a um cortejo fúnebre: John, inteiramente vestido de branco, seria o corpo astral; Ringo, todo de negro, aquele que chora o morto; George, com calças e blusão de ganga coçada, o coveiro; por fim, Paul, descalço e com o pé direito na dianteira, contrariamente aos restantes, o cadáver. Aparentemente também, na Índia os condenados à morte eram levados descalços ao seu destino final. Tal como, também na Índia, e retomando a capa de Sergeant Pepper's, a mão que surge sobre a cabeça de Paul constituía sinal para a execução de um condenado.

Um dia na vida

Interessante ainda que muito inverosímil. Como sabemos, há quem ainda acredite e jure que a terra é plana e que a ida à Lua foi integralmente filmada em estúdios. Igualmente interessante é o vídeo do celebrado A Day in the Life, tema maior que supostamente refere o acidente de Paul - "He blew his mind out in a car/He didn't notice that the lights had changed/A crowd of people stood and stared/They'd seen his face before/Nobody was really sure if he was from the House of Lords" - e parte fundamental do álbum que hoje celebramos...